Advances in developing new drugs against Chagas disease

Communication of LNBio, May 27th 2015

Pesquisa do LNBio mira enzima em busca de novos fármacos contra Doença de Chagas

Avanço nas investigações é reconhecido e Brasil ganha prêmio internacional de biologia estrutural

 

Pesquisadores do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) trabalham para o desenvolvimento de novos fármacos contra doença de Chagas, mirando uma enzima chave para a sobrevivência do parasita Trypanosoma cruzi. As investigações com a enzima glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PDH) progridem e detalhes de sua interação com outras moléculas foram revelados recentemente. O avanço no conhecimento da estrutura tridimensional da G6PDH foi reconhecido pela comunidade acadêmica internacional e o Brasil ganhou, pela primeira vez, troféu da Associação Britânica de Cristalografia.

Estudos in vitro sugerem que a enzima glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PDH) desempenha papel fundamental para a sobrevivência do T. cruzi no organismo humano. Diante destas evidências, pesquisadores do LNBio trabalham desde 2011 em busca de moléculas que possam inibir a atividade desta enzima, levando o parasita causador da Doença de Chagas à morte.

Para encontrar inibidores da G6PDH, o grupo liderado por Artur Cordeiro, pesquisador do LNBio, desenvolveu ensaios de high throughput screening (HTS) para esta enzima. O uso de HTS permite testar, de forma rápida e robotizada, milhares de substâncias químicas em ensaios de atividade biológica. Trata-se do ponto de partida para a descoberta de novos medicamentos. Os resultados de HTS permitiram ao grupo de Cordeiro selecionar, a partir de uma biblioteca química com 30.000 compostos, 32 novas moléculas capazes de inibir a atividade da G6PDH.

“Identificamos duas novas classes químicas de inibidores da G6PDH, as quinazolinona e tieno-pirimidinas. Estes inibidores apresentaram características promissoras para um candidato a fármaco, como potência e seletividade pela enzima do parasita”, explica Artur Cordeiro.

Neste momento, o grupo de Cordeiro trabalha para desvendar como a G6PDH interage com estes inibidores. Para isso, um de seus alunos, Gustavo Mercaldi, doutorando do Programa Biociências e Tecnologia de Produtos Bioativos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) foi à Universidade de Dundee, na Escócia.

Detalhes moleculares revelados

Mercaldi partiu para o estágio no exterior em outubro de 2014, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Supervisionado pelo Prof. Dr. Willian N. Hunter, da Universidade Dundee, o jovem pesquisador revelou a estrutura da G6PDH ligada ao seu substrato e ao seu co-fator.

“Os inibidores descobertos por HTS no LNBio só atuam quando o substrato e o cofator estão presentes no sítio catalítico da G6PDH. Portanto, para entendermos como estes inibidores interagem com a G6PDH, precisávamos primeiramente estabelecer o complexo entre a enzima e estes ligantes naturais. Os experimentos realizados em Dundee resultaram exatamente na cristalização deste complexo. O estudo de complexos biológicos é uma das fronteiras da cristalografia de proteínas. Talvez por este motivo, nosso trabalho tenha sido premiado durante a última reunião da Associação Britânica de Cristalografia”, sugere Mercaldi.

Pesquisa premiada

O pôster descrevendo a pesquisa do brasileiro ganhou o prêmio David Blow Memorial, concedido pela Associação Britânica de Cristalografia (BCA) durante o BCA Spring Meeting, evento realizado no último mês na Escócia.  Esta é a primeira vez que instituições brasileiras (LNBio e Unicamp) gravam seus nomes no troféu Derbyshare Blue John, concedido desde a década de 80, como parte da premiação ao melhor pôster de biologia estrutural do BCA Spring Meeting. “Estou bastante feliz pelo reconhecimento deste trabalho. O prêmio torna-se ainda mais especial por ser concedido no Reino Unido, o berço da cristalografia”, comemora Mercaldi.