Fossilised hearts found in prehistoric fish

Coração fóssil é identificado pela primeira vez em rochas do Ceará

Órgão com 120 milhões de anos ajuda a desvendar a evolução do coração humano

Available only in Portuguese
Communication of LNBio, 9th May 2016

A evolução do coração dos vertebrados é um enigma para a ciência. Dos peixes aos seres humanos, os corações dos animais deste grupo seguem um modelo padrão, com o mesmo sentido do fluxo de sangue e mesma disposição de câmaras de entrada e saída, bem diferente do observado nos invertebrados. Diante da inexistência de animais vivos intermediários, capazes de indicar como essa diferenciação ocorreu durante a evolução, pesquisadores voltaram-se para o estudo de fósseis. Entretanto, nenhum coração fóssil havia sido identificado pela ciência, até então.

rhacolepis ilustraçãoApós dez anos de investigações, um artigo científico, publicado na revista eLife, revelou a descoberta de corações preservados em fósseis de peixes pré-históricos, presentes em rochas da Bacia do Araripe, sítio geológico localizado no Ceará. A notícia repercutiu na imprensa nacional e internacional, como pode ser conferido aqui.

Neste trabalho, um grupo de pesquisadores, a maioria do Brasil, caracteriza o coração de um fóssil de 120 milhões de anos, o peixe Rhacolepis buccalis. O órgão pré-histórico apresenta uma morfologia intermediária entre peixes primitivos e atuais, sugerindo que a formação dos corações dos vertebrados aconteceu de maneira lenta e gradual.

A descoberta, liderada pelo pesquisador José Xavier-Neto do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), abre caminho para o esclarecimento da evolução cardíaca. Fósseis de animais ainda mais primitivos, peças-chave no processo evolutivo que deu origem aos corações dos vertebrados, poderão ser submetidos às técnicas utilizadas neste trabalho. Assim, o enigma do surgimento dos corações mais modernos poderá ser decifrado.

coração (2)Os avanços no conhecimento sobre as origens do coração dos vertebrados, em especial dos seres humanos, poderão lançar novas perspectivas para o tratamento de problemas cardíacos. Para isso, o grupo de Xavier-Neto combina pesquisas sobre evolução com investigações em biologia do desenvolvimento. Essa abordagem visa entender como as características adquiridas no processo evolutivo são materializadas durante a formação dos embriões. No futuro, a compreensão destes fenômenos poderá possibilitar intervenções cardíacas complexas, como a restauração de válvulas do coração durante a gestação e o desenvolvimento de estruturas cardíacas a partir de células tronco.

A descoberta, coordenada pelo Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), conta com a participação de cientistas do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e Laboratório Nacional de Nanotecnologia – integrantes do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Pesquisadores das seguintes instituições também participaram do desenvolvimento deste trabalho: Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Universidade de São Paulo (USP); Geopark Araripe; Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM); Instituto do Coração (InCor); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Instituto de Pesquisa Técnica da Suécia; European Synchrotron Radiation Facility (ESRF).