LNBio is the first beneficiary of Pilot Program created by FAPESP

Communication of LNBio – 18th February 2013

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LNBio é o primeiro beneficiário de programa-piloto da FAPESP

Iniciativa promove projetos colaborativos entre instituições paulistas e pesquisadores brasileiros de alto nível radicados no exterior

 

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) criou, em julho de 2012, o Programa-Piloto São Paulo Excellence Chair (SPEC), com o objetivo de apoiar colaborações de instituições paulistas e pesquisadores de alto nível radicados no exterior.  O Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) em Campinas, foi a primeira instituição beneficiária do SPEC: Andrea Dessen, do Instituto de Biologia Estrutural Grenoble, na França, assumiu, por um período de quatro anos, a coordenação de um projeto temático em patogenia  bacteriana do LNBio. Andrea é brasileira e mora na França, mas durante 12 semanas por ano permanecerá no LNBio para acompanhar o desenvolvimento das pesquisas e orientar bolsistas da FAPESP. 

Nesta entrevista, concedida à Assessoria de Comunicação do CNPEM, ela fala sobre sua carreira fora do Brasil, a vontade de voltar a fazer pesquisa no país, conta suas expectativas sobre a parceria com o LNBio e demonstra como esse tipo de iniciativa pode, de fato, beneficiar o cenário científico do país.

 

  1. Quais são seus interesse de pesquisa?

Sempre trabalhei com estrutura de proteína. Estudei proteínas ligadas ao vírus da AIDS e processos inflamatórios. Agora estou trabalhando com proteínas ligadas à infecção bacteriana. A técnica sempre foi a mesma, mas os projetos foram diferentes. Essa diversificação foi muito positiva em minha carreira: pude estudar muitos aspectos diferentes da biologia, por ter variado os temas da minha pesquisa.

 

  1. Há outros desafios ou dificuldades nessa linha de pesquisa?

Há muitos desafios e isso é o mais interessante. Você pode passar a vida inteira fazendo pesquisa sobre a proteína de uma determinada bactéria, compreender como aquilo funciona, mas se isso não virar um conhecimento que leve à produção de um antibiótico ou de uma vacina, é um pouco decepcionante.

 

  1. Para que isso aconteça, é necessária uma articulação com a indústria farmacêutica. Como você percebe essa relação entre o meio acadêmico e o setor industrial?

Na França já existe bastante interesse da indústria farmacêutica nesse tipo de pesquisa. Os governos europeus estão forçando os pesquisadores e as indústrias a trabalharem juntos, porque o problema da resistência a antibióticos é muito sério.

 

  1. Quais são os projetos desenvolvidos em parceria com o LNBio?

Estamos interessados em estudar como as bactérias patogênicas, que infectam seres humanos, dão início a uma infecção. Várias bactérias têm uma estrutura na sua superfície que se assemelha a uma agulha, utilizada para injetar toxinas dentro das células humanas saudáveis, com a intenção de matá-las, mesmo. Estamos estudando como essa “agulha” é feita pela bactéria, quais os mecanismos de construção dessa máquina molecular. Estudamos também as toxinas e seus efeitos. Algumas toxinas injetadas por bactérias destroem as células em 30 minutos. A bactéria que causa a peste bubônica, por exemplo, tem esse tipo de sistema e a bactéria que infecta pessoas que têm fibrose cística também destrói o sistema pulmonar dessa forma. Trata-se de um sistema extremamente agressivo. Estamos estudando como ele é controlado, como é gerado. Um dia, quem sabe, poderemos desenvolver antibióticos ou vacinas que possam controlar esse tipo de infecção.

 

  1. Qual a bactéria que está sendo estudada nessa linha de pesquisa?

No LNBio trabalhamos principalmente com uma bactéria chamada  Pseudomonas,  que causa infecções hospitalares. Numa segunda linha de pesquisa, investigamos como a parede bacteriana é formada, como ela é sintetizada e quais são as enzimas envolvidas nesse processo. Sabemos que a penicilina, por exemplo, bloqueia essas enzimas, mas as bactérias já desenvolveram resistência contra esse antibiótico. Estamos estudando as proteínas que são os alvos da penicilina e também tentamos, em colaboração com um pessoal de química orgânica da Universidade de Oxford e da Eslovênia (Universidade de Ljubljana), desenvolver novas moléculas que possam ser antibióticos no futuro. 

 

  1. Quais são as expectativas em relação a esses projetos?

Esses projetos são competitivos e difíceis. Se os alunos obtiverem bons resultados, poderão ser publicados nos melhores jornais científicos do planeta. Eu sugeri projetos difíceis, que recomendaria para o pessoal do Instituto de Grenoble.  A ideia é expandir nosso conhecimento em termos de infecção bacteriana. Queremos fazer dois polos de pesquisa sobre microbiologia, um no Brasil e outro na França.

 

  1. Outras instituições fazem parte dessa parceria?

Fazemos projetos e pedidos de financiamento juntos com a Universidade de Oxford; Universidade de Ljubljana, na Eslovenia; Universidade de Utrecht, na Holanda e Instituto Pasteur, de Paris. Todos foram incluídos nesse projeto temático da Fapesp, mencionados como colaboradores.

 

  1. Esses projetos oferecem oportunidade para os estudantes?

Sim. Temos um pesquisador assistente do LNBio, David Neves, um aluno que está finalizando o mestrado e vai direto para o doutorado, e em fevereiro, contaremos com mais uma doutoranda. Os dois irão à França, ainda este ano, porque pretendo fazer uma ponte com o laboratório francês para trazer algumas tecnologias para cá. O Davi irá com eles. A França está muito interessada em ter alunos brasileiros. Os franceses acham que o Brasil é uma fonte de estudantes brilhantes. Os pesquisadores brasileiros, em geral, são vistos de forma muito positiva, e agora com a fase boa pela qual o Brasil está passando, são também vistos como cientistas com acesso a muitos financiamentos e bolsas. Então, as colaborações com o Brasil são vistas com bons olhos.

 

  1. Existe interesse dos estudantes franceses em virem para o Brasil também?

Sim. Já disseram que têm recursos para pagar as passagens, para pagar os hotéis. É só a gente se organizar.

 

  1. Como aconteceu sua aproximação com o LNBio?

Essa aproximação veio da minha vontade de voltar ao Brasil, depois de 25 anos, de reatar laços com o meu país. Mas eu não conhecia ninguém. Uma amiga minha, professora da USP, intermediou o contato com Kleber Franchini, diretor do LNBio, e iniciamos o debate sobre essa colaboração

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  1.   O que te atraiu no LNBIO para consolidar essa parceria?

Achei as instalações fantásticas, com todos os equipamentos necessários à pesquisa. Jamais poderia ter imaginado que existissem estruturas assim e um pessoal muito bom, muito preparado. O que primeiro me atraiu, portanto, foi a qualidade. Em segundo lugar, atraiu-me o fato de ter um contrato flexível, afinal, moro na França e tenho dois filhos pequenos. As condições são perfeitas.

 

  1. Como você percebe a relação das instituições de pesquisa e desenvolvimento do Brasil com os pesquisadores brasileiros que vivem e atuam fora do país?

O sistema brasileiro sempre foi muito inflexível. Agora há essa abertura para os pesquisadores que estão lá fora. Tenho certeza que outros pesquisadores querem voltar para cá. Sei de casos de pessoas que já tentaram voltar e não foram bem recebidas: chegaram ao Brasil e lhes foi pedido que largassem tudo para ficar integralmente aqui. Esse tipo de proposta não é possível. O interessante é fazer essa ponte, ter essa abertura, e não exigir que a outra pessoa comece do zero. 

 

  1. Como foi a sua decisão de viver no exterior?

Sai do país logo que terminei a faculdade de Engenharia Química, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Queria conhecer o mundo, estudar. Nunca pensei em colocar uma mochila nas costas e ficar viajando. Enviei pedidos de bolsa para faculdades do exterior e consegui fazer o mestrado na Universidade de Nova York. Acabei ficando por lá e fazendo o doutorado. Lembro que, no dia que em que fui embora, minha mãe me deu a chave de casa e disse: “Se você não gostar, volta.”. Guardei aquela chave para sempre, mas nunca mais voltei. Fiz o pós-doutorado também em Nova York. Na sequência, resolvi aprender mais técnicas, e fui fazer cristalografia em Boston, onde trabalhei em uma indústria farmacêutica. Depois disso, casei-me, mudei para a França e comecei do zero, tudo de novo: não conhecia ninguém, não tinha emprego, não tinha nada. Comecei a enviar meu currículo para vários lugares diferentes. Dei sorte e consegui uma entrevista.  Eu já falava francês, tinha estudado na escola. Quando cheguei , vi que as pessoas falam muito rápido, com muitas gírias e tive certa dificuldade com a língua. Comecei a trabalhar no Instituto de Biologia Estrutural de Grenoble, o que me obrigou a exercitar o que eu já tinha aprendido.

 

  1. O Projeto da Fapesp tem duração limitada, o que você espera ao final desse período?

O projeto temático da Fapesp tem um prazo de quatro anos, começou em julho do ano passado. A ideia é que continue, frutifique e se multiplique. Meu sentimento é que para esse tipo de projeto dar certo, é preciso contratar gente que ame o Brasil. Tem que vestir a camisa.