Nesse primeiro momento, instalação receberá estudos com arbovírus, como Rocio, Ilheus e Febre amarela
Tiveram início no Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais (CNPEM), as operações do primeiro laboratório de nível de biossegurança 3 (abreviação para NB3) no Centro, que recebeu certificação internacional da empresa World BioHazTec (WBHT).
A instalação, operada pelo Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) do CNPEM e financiado com recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), foi certificado pela empresa World BioHazTec. “O processo de certificação inclui a avaliação de nosso treinamento, nossos processos, maquinário, infraestrutura, equipamentos, garantindo a operação deste laboratório NB3 em níveis internacionais”, ressalta o pesquisador líder em Virologia do LNBio/CNPEM, Rafael Elias Marques.
No processo de certificação, foram simuladas diferentes situações que eventualmente podem ocorrer no laboratório, de modo a testá-lo a possíveis incidentes. “É uma forma de avaliar como reagimos a essas falhas hipotéticas, como simulação de incêndios, por exemplo, atestando que o laboratório mantém a biocontenção até mesmo nesses casos”, detalha Marcos Rodrigo Alborghetti, coordenador de operações do LNBio.
Ele ainda explica quais são os critérios considerados durante a certificação de um laboratório. “Dois grandes universos são avaliados no processo de certificação. O primeiro é relacionado a infraestrutura do laboratório e, o segundo, se refere a como ele é operacionalizado, ou seja, o treinamento das pessoas”, acrescenta Alborghetti. Diferentes áreas do CNPEM estiveram envolvidas durante esse processo, entre elas os times de engenharia, segurança do trabalho, brigada de incêndio e manutenção.
Após mais de seis meses de interação e trocas, a WBHT esteve no CNPEM durante dois dias para conferir se a estrutura estava em conformidade com as normas de biossegurança dos Estados Unidos, com base na 6ª edição do Biosafety in Microbiological and Biomedical Laboratories, e vem acompanhando a obra do NB3 no Centro há um tempo. A certificação tem validade de um ano, e deve ser repetida anualmente.
O novo laboratório no CNPEM irá fornecer condições para investigar agentes patogênicos (como vírus, fungos e bactérias) da classe 3 de risco biológico, como é classificado, por exemplo, o vírus da Covid-19, o SARS-CoV-2.
“O início de operação dessa instalação, assim como o processo de certificação, nos traz aprendizados que beneficiarão a implantação do Projeto Orion. As experiências que estamos adquirindo internamente e em colaboração com outras instituições da área de saúde, do Brasil e do exterior, são centrais para o sucesso do Projeto”, conclui Antonio José Roque da Silva, Diretor-Geral do CNPEM.
Projetos de Pesquisa
Entre as pesquisas que devem ser conduzidas no laboratório, estão os estudos mais avançados de arbovírus – grupo de vírus transmitidos por vetores artrópodes, como mosquitos e carrapatos. No início, os times profissionais do Centro conduzirão neste laboratório estudos com os vírus Rocio, Ilheus e Febre amarela. Essas pesquisas poderão, no futuro, receber maior aprofundamento no Orion – complexo avançado para pesquisas avançadas em patógenos, que reunirá instalações inéditas de laboratório de máxima biossegurança (NB4) na América Latina, sendo as primeiras do mundo conectadas a um acelerador de partículas brasileiro, o Sirius.
O Rocio será o primeiro vírus a ser manipulado no laboratório, é transmitido por mosquitos infectados, e pode causar uma doença grave em humanos, que se manifesta como encefalite (inflamação do cérebro). “Assim como foi com o Mayaro, espera-se que com esse novo laboratório seja possível elucidar a estrutura do vírus Rocio”, projeta o virologista, fazendo referência a primeira estrutura viral elucidada na América Latina por pesquisadores do CNPEM.
“O CNPEM oferece um ambiente ímpar para os estudos de virologia molecular e estrutural, o que resultou, dentre muitas contribuições, na primeira estrutura de um vírus resolvida na América Latina. Com o nosso NB3 certificado internacionalmente, temos agora total autonomia e segurança para conduzir estudos com agentes infecciosos emergentes de importância nacional e regional, como é o caso do vírus Rocio. Isso contribuirá tanto para o melhor entendimento da biologia desses patógenos quanto para o desenvolvimento de estratégias de saúde pública”, observa Maria Augusta Arruda, diretora do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio).
Medidas de biossegurança
Entre as medidas de biossegurança necessárias para conduzir pesquisas em um ambiente laboratorial de nível 3 de biossegurança, estão o controle de entrada e de circulação de ar (com pressão negativa permanente), filtros de ar, autoclaves de barreira, cabines de segurança biológica para proteção de materiais biológicos e equipamentos de proteção individual, como avental e macacão (se necessário), dois pares de luvas, óculos de proteção e/ou face shield. Também são acrescidos equipamentos de proteção para os pés (calçados dedicados, calçados autoclaváveis ou propés) e máscaras de proteção respiratória, que podem variar entre N95/ PFF2 ou respiradores motorizados com filtro HEPA.
Treinamento
O CNPEM conduz em seu campus o Programa de Treinamento & Capacitação em laboratórios de alta e, em breve, máxima biossegurança. Inédito no País, a iniciativa integra as ações do Projeto Orion e visa a formação de recursos humanos aptos a atuarem em ambientes de alta e máxima contenção biológica. Esse programa ocorre em um laboratório de treinamento que é uma réplica fiel das instalações reais de laboratórios NB3 e NB4. Aberto a comunidade acadêmica de todo País, o treinamento também atendeu os pesquisadores do CNPEM que atuam no novo laboratório NB3.
Sobre o CNPEM
O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) compõe um ambiente científico de fronteira, multiusuário e multidisciplinar, com ações em diferentes frentes do Sistema Nacional de CT&I. Organização Social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o CNPEM é impulsionado por pesquisas que impactam as áreas de saúde, energia, materiais renováveis e sustentabilidade. Responsável pelo Sirius, maior equipamento científico já construído no País, O CNPEM hoje desenvolve o projeto Orion, complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos. Equipes altamente especializadas em ciência e engenharia, infraestruturas sofisticadas abertas à comunidade científica, linhas estratégicas de investigação, projetos inovadores com o setor produtivo e formação de pesquisadores e estudantes compõem os pilares da atuação deste centro único no País, capaz de atuar como ponte entre conhecimento e inovação. O CNPEM é responsável pela operação dos Laboratórios Nacionais de Luz Síncrotron (LNLS), Biociências (LNBio), Nanotecnologia (LNNano) e Biorrenováveis (LNBR), e também pela Ilum Escola de Ciência, curso de bacharelado em Ciência e Tecnologia, com apoio do Ministério da Educação (MEC).
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